O dia 21 de agosto de 2013 é um dos mais tristes da história recente do Oriente Médio. Dezenas ou mesmo centenas de pessoas foram mortas em ataque químico nos subúrbios de Damasco. A oposição acusa o regime de Bashar al Assad, que nega ser responsável. A Rússia e o governo sírio acusam os rebeldes que também negam. As cenas abaixo exibem os corpos das crianças e pessoas mortas nesta deprimente operação, que ocorre justamente durante a presença de inspetores da ONU para verificação do uso de armas químicas no conflito.
Cenas dos corpos das vítimas do ataque químico (são extremamente fortes)
Pela lógica, o regime de Assad não usaria este arsenal agora por pelo menos quatro motivos. Primeiro porque o regime vem ganhando a guerra e não existe nenhuma necessidade de se desesperar. Em segundo lugar, as forças de Assad sabem que podem matar uma ilimitada quantidade de pessoas sem correr o menor risco – a administração de Barak Obama considera apenas o uso de armas químicas como um divisor de águas. Terceiro, a ação ocorreu nos subúrbios de Damasco, quase integralmente controlados pelo regime, embora esta zona esteja nas mãos de rebeldes. Por último, por que atacar justamente com a presença de inspetores da ONU?
Regimes ditatoriais, porém, agem muitas vezes irracionalmente ou dentro de uma racionalidade difícil de entendermos. Na semana passada, o regime do general Sisi matou quase mil pessoas em massacres no Cairo. Não havia necessidade desta matança para acabar com os protestos, ainda que violência, tortura e prisões fossem usadas. Mas, mesmo assim, os massacres ocorreram.
Neste sentido, a primeira possibilidade é o regime de Assad simplesmente ter decidido usar as armas químicas como demonstração de força. Na região, mostrar ser o mais forte muitas vezes atrai apoio popular, como vemos no Egito. E o regime sírio já agiu de forma totalmente irracional no passado. Uma segunda possibilidade seria escalões mais baixos do regime terem usado o arsenal a revelia de Assad.
Análise de um especialista na CNN – “Initially what I thought is that it could well be a concentrated riot control agent,” Gwyn Winfield said. But “as the footage has sort of gone on, it looks more and more likely that some kind of organophosphate – so that is some kind of nerve agent – has been used.”
Existe a possibilidade de o regime de Assad ter sido sabotado internamente. Algumas facções supostamente a favor do regime teriam usado, com ou sem o apoio de forças estrangeiras, os armamentos químicos de propósito para elevar a pressão internacional contra o líder sírio justamente no momento em que os inspetores estão presentes em Damasco.
Escrevi inicialmente que seria difícil ter sido a oposição. Mas novas informações podem apontar para a autoria dos rebeldes. As armas não seriam tão sofisticadas e, aparentemente, foram lançadas por um foguete caseiro. Esta versão tem peso forte na Rússia
Não podemos esquecer que este episódio desvia completamente a atenção dos acontecimentos do Egito de volta para a Síria. Muitas forças de região e internacionais têm interesse em que foco fique em Assad e se distancie do general Sisi.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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