31 julho 2008

TEOLOGIA DO PRETEXTO

Corbã era oferta para o Senhor (Marcos 7.10-13). Literalmente o termo significava "qualquer coisa levada a Deus como dádiva, oferenda ou doação". Nos dias de Cristo tinha se estabelecido com o aval dos sacerdotes e escribas uma deformação dos propósitos da oferta. Os sacerdotes e escribas passaram a ensinar que se a pessoa deixasse de cuidar do sustento dos pais para ofertar ao Senhor estava se comportando de forma nobre e ficava isento do dever de cuidar dos pais. Esta mentalidade gerou uma tradição entre os judeus contemporâneos de Jesus. Cristo condenou esta mentalidade, este "jeitinho religioso" de rejeitar a Palavra de Deus para observar uma tradição religiosa. Afinal, honrar pai e mãe é um mandamento de Deus (Êxodo 20.12), e os mandamentos de Deus sempre estarão acima dos preceitos religiosos e tradições dos homens.

O que estava acontecendo nos dias de Cristo era apenas uma questão de pretexto. Pretexto daqueles que queriam ficar isentos da responsabilidade de cuidar do sustento dos pais e pretexto dos sacerdotes que queriam ver o templo recebendo mais dinheiro ou bens dos doadores. Geralmente, quando usamos um pretexto estamos querendo fugir de alguma responsabilidade ou obrigação.

Conforme o dicionarista e mestre na língua portuguesa Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, "pretexto é uma razão aparente ou fictícia que se alega para dissimular o motivo real de ato ou omissão". Pretextar é dissimular, disfarçar, enganar, mentir omitindo ou distorcendo o que é verdadeiro. Se a mentira também é toda omissão proposital da verdade, então, o pretexto é uma forma de mentira. É uma forma de mentir com discrição, sutileza, elegância, astúcia e fingimento.

Foi com o pretexto de tornar os homens semelhantes a Deus no conhecimento do bem e do mal que Satanás enganou o homem e o separou de Deus (Gênesis 3.1-8). Foi com o pretexto de receber notícias da guerra que Davi tramou maquiavelicamente a morte do inocente, ético e destemido soldado Urias para tomar Bate-Seba, a esposa deste (I Samuel 11). Foi com o pretexto de fazer um carinho que Dalila fez Sansão adormecer em seus braços e mandou rapar-lhe as sete tranças da cabeça, roubando-lhe as forças que o faziam um grande vencedor (Juizes 16.15-21). Foi com o pretexto de ter a companhia do pai e dos irmãos na tosquia das ovelhas que Absalão planejou e executou a morte de Amnom (II Samuel 13.22-29) que dois anos antes havia, sob o pretexto de estar doente e precisando dos cuidados de sua irmã Tamar, se deitado com ela e a estuprado (II Samuel 12.1-14). Foi com o pretexto de estabelecer um trono semelhante ao de Deus que Lúcifer obteve o apoio de um grande número de anjos simpáticos às suas idéias e pretensões e, expulsos do céu, decaídos como demônios, serão lançados no lago de fogo (Isaías 14.12-20 e Ezequiel 28.11-15).

Assusta-me a atualidade desta Teologia: a Teologia do Pretexto.

Sob o pretexto de manter o púlpito atraente e agradável aos ouvintes a Palavra de Deus está sendo jogada no lixo e fogo estranho está sendo colocado sobre o altar.

No pretexto de manter a casa cheia, técnicas de mercado estão sendo incorporadas ao evangelho e os templos estão ficando abarrotados de gente religiosamente domesticada e sem qualquer experiência de Novo Nascimento.

No pretexto de cuidar dos interesses do Reino de Deus pastores e obreiros estão isolando-se do Corpo e formando o seu próprio Reino, com trono, leis, tributos e súditos, à sua semelhança.

Sob o pretexto de espiritualidade homens e mulheres estão assumindo posturas extravagantes e psicóticas tornando-se "semi-deuses" do púlpito e candidatando-se a Deus.

No pretexto de cuidar melhor da Igreja ou de cobrar das instituições convencionais maior apoio e assistência, pastores e obreiros estão fazendo do Plano Cooperativo coisa de sua propriedade e uma arma de chantagem caindo no abismo da infidelidade, do desvio, da fraude, da apropriação indébita e da mentira dando legalidade ao ilegal.

Sob o pretexto de zelo pela Causa do Senhor pastores e obreiros tem se assenhoreando do povo de Deus ludibriando e manipulando vidas pelas quais um dia terão que prestar contas ao Único e Verdadeiro Senhor da Igreja.

Sob o pretexto de uma nova unção pastores e obreiros tem ignorado os marcos estabelecidos pelos seus antecessores, muitos deles fincados com suor, lágrimas, privações, perseguição, integridade ministerial e rosto no pó, dissimulando suas verdadeiras intenções e vaidades pessoais, ignorando que história sem unção gera tradição, mas que unção sem história gera modismos.

Sob o pretexto de ganhar almas dezenas de pessoas estão ingressando nos seminários e faculdades de teologia sem atentar para a máxima ministerial que o verdadeiro ministro de Deus não se candidata ao ministério para viver da Igreja, mas para viver para a Igreja.

Sob o pretexto de que as denominações não fazem parte do plano de Deus para a Igreja, pastores, missionários e obreiros tem se levantado nos quatro cantos do mundo dividindo o rebanho, sob a alegação de uma nova visão, revelação ou intuição profética, e sob a égide ou pretensão de ser a última novidade do Espírito na terra tem fundado sua própria denominação revelando assim que por trás de seu discurso de unidade, retorno ao primitivismo e purificação da Igreja escondia-se uma mente com sérios distúrbios mentais e desajustes de personalidade.

No pretexto de fazer a obra crescer e competir com a igreja da esquina pastores e obreiros, numa terrível inversão de valores,estão transformando seus templos em palcos gastando fortunas com a apresentação de bandas e cantores famosos quando não levantam um único centavo nas campanhas de Missões deixando os missionários à mercê de um punhado de crentes e igrejas comprometidos com Deus e com a salvação das almas.

De olho em um Diploma de Bacharel em Teologia, no púlpito ou salário de uma igreja, dezenas de pessoas estão correndo aos seminários teológicos sem qualquer convicção de chamada ou vocação ministerial usando como pretexto a mensagem bíblica de que grande é a seara e poucos são os ceifeiros.

É também sob o pretexto de ocupação com o trabalho, escola ou família que boa parte dos membros da Igreja engrossam a multidão dos "sem tempo para Deus" tornando-se meros consumidores do Evangelho.

São tantos os pretextos!

Talvez você pense que por um pretexto, escrevi este próprio texto.

Que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos livre desta falsa Teologia.

Profº Sérgio Zabotto Ms.

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