24 outubro 2009

Modelos inadequados de Igreja e Ministério Pastoral hoje



A influência dos perigos e desafios da pós-modernidade pode ser vislumbrada facilmente na vida da Igreja. Muitas igrejas evangélicas, consciente ou inconscientemente, têm até mesmo adotado modelos eclesiásticos e pastorais que carregam em si a marca clara do mundo pós-moderno, especialmente no que se refere à teatralização, à dominação e à comercialização da religião, como se fora um artigo cultural qualquer. Esta é precisamente a tese de um importante estudo de Leonildo Silveira Campos (Cf. CAMPOS, Leonildo Silveira. Templo, Teatro e Mercado: organização e marketing de um empreendimento pentecostal. p. 14ss).


Comentando esta obra, Julio Paulo Tavares Zabatiero relaciona este modelo eclesiológico com a atividade pastoral. Assim, ele demonstra que a cultura massificada pela televisão tem tornado a sociedade pós-moderna na “sociedade do espetáculo”. Por esta causa, o ministério pastoral tem se desenvolvido cada vez mais em grandes eventos, que só contribuem para aumentar o sentimento de desamparo e solidão do povo. Nessa sociedade “midiática”, até o culto toma uma nova conotação:


Os novos gostos litúrgicos, nas igrejas históricas, traem a sedução imagética. A imagem apaixona, o espetáculo seduz mentes, corações e corpos, e imperceptivelmente a igreja se transforma em um imenso teatro coletivo; o culto converte-se em arrebatadora performance das coisas que se deveriam esperar. Realidades escatológicas são temporalizadas, capturadas nas agradáveis sensações da confusa presença do sagrado no extasiante consumo dos novos cânticos, novos ritmos, novos gestos, novas palavras de ordem, novos ritos, meios sempre novos para se “performar” os mesmos e velhos ritos da celebração cristã do Crucificado. (ZABATIERO, Julio Paulo Tavares. Apascentai a Igreja de Deus no Mundo Pós-Moderno)
É por isto que, ao invés de centralizar-se na proclamação da Palavra de Deus, o culto evangélico tem tido o seu foco sobre manifestações visíveis da espiritualidade. Assim, a primeira tarefa pastoral que Zabatiero propõe é o cuidado com estas seduções da imagem e do espetáculo, não aceitando o papel que a pós-modernidade tem dado aos líderes religiosos. O pastor deve, então, cuidar primeiro de si mesmo.


Zabatiero também aponta para o já citado individualismo extremado da pós-modernidade tem invertido as realidades do mundo, privatizando o que é público e tornando público o que é privado e, mais uma vez, em grande parte por influência dos meios de comunicação. Ele lembra que a fé cristã não pode ser privatizada sob pena de perder sua essência:


A fé cristã é pública, sua arena não é o templo, não é o coração, não é a doutrina, não é a denominação. Sua arena é o mundo! Não o abstrato mundo composto de falsas doutrinas, espíritos enganadores, ou religiões concorrentes e anti-cristãs. O mundo, que é nossa arena, é o mundo amado inefavelmente por Deus. O mundo composto de pessoas reais, visíveis e palpáveis. Pessoas com cores, gostos, cheiros, modos e tons particulares, individuais, mas construídos publicamente nesta imensa sociedade anônima chamada Brasil. (ZABATIERO, Julio Paulo Tavares. Apascentai a Igreja de Deus no Mundo Pós-Moderno)


Diante deste mundo, a tarefa do ministro do Evangelho também é publica, mas sem desvanecer no espetáculo vitorioso. Ironicamente, ele aponta para a Cruz como o único “espetáculo” que deve ser demonstrado a partir do exercício do ministério pastoral.


Ministério pastoral e teológico que ajudem a Igreja a ser sal da terra e luz do mundo. Que, juntamente com o Povo de Deus, experimentem, desbravem novos caminhos para salgar este mundo insosso e nauseante em que vivemos. Ensino e pastorado que conduzam a Igreja de Deus, comprada com o sangue de Cristo, ao serviço ao mundo e no mundo. Igreja de Deus chamada para ser sal e luz, para brilhar em meio às trevas da exclusão, do consumo, da desumanização, da globalização tecnológica. Luz, farol altaneiro que reconduza a humanidade ao porto seguro da reconciliação com Deus. Sal, tempero agradável, que torne sábias as palavras e ações dos cristãos no mundo ignorante do progresso sem solidariedade e compaixão. (Cf. ZABATIERO, Julio Paulo Tavares. Apascentai a Igreja de Deus no Mundo Pós-Moderno).


Graça e Paz...

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